O PARDAL E A LEBRE
O não saber guardar-se dos conselhos
Aos outros, é loucura conhecida,
Que nestes poucos versos mostraremos.
A uma pobre lebre, que apertava
Nos curvos esporões a águia invicta,
Insulta sem cautela o vil pardal;
"Porque suspiras, dás tristes gemidos?
Que é feito dessa tua ligeireza,
Teus alígeros pés aonde estão?"
Inda falando, chega um fero açor,
E nas torcidas garras o arrebata.
O pardal, que chilreava tão ufano,
Clamando em vão aos ares tenebrosos,
Vítima veio a ser das fatais unhas.
A lebre meia morta teve ainda,
Primeiro que espirasse, o triste gosto,
De lhe poder dizer estas palavras:
"Tu, não há um momento que zombavas
Da minha desventura, e que entendias
Estar muito seguro nesta cena,
Já te vês reduzido à mesma sorte;
A queixar-te, e chorar o teu destino."
* * *
O SAPATEIRO MÉDICO
Um sapateiro mau já consumido
Da importuna pobreza, vai a ser
Médico num lugar desconhecido.
Um antídoto falso à gente inculta,
Que juntando os seus gárrulos enganos,
Muito em breve o apregoa a incerta fama.
Sucede pois cair em grava queixa
Desta mesma cidade o destro rei;
Faz chamar este sórdido homicida,
E por firmar melhor o seu conceito,
Pede aos servos um copo cheio de água
Fingindo que mistura um tal veneno
C'o antídoto falaz do charlatão:
- "Bebe, lhe diz o rei; pois se a mistura
Te não ocasionar o menos dano,
Além de engrandecer o teu remédio,
Liberal te darei um grande prêmio."
O espúrio professor então temendo,
O suposto perigo de morrer,
Precisando se vê a confessar
Que a loucura do vulgo, e não a arte
Erradamente o fez filho de Apolo.
O rei então juntando os moradores,
Com justíssimo enfado acrescentou:
-"Quanta julgais será vossa demência,
Quando entregar quereis vossas cabeças
A um homem fatal, a quem os outros
Não confiarão seus pés para os calçar?"
Isto lhe diz alguns, que são tão loucos,
Que dão o lucro vil aos curandeiros.
* * *
O CARECA E A MOSCA
Na cabeça descoberta de um careca,
Mordicou uma mosca mui prolixa;
Este logo, com intento de esmagá-la
Dá em si próprio om grande bofetão.
A mosca diz então por zombaria:
- "Se tu te vingares da picada
De um inseto volante tão pequeno,
Intentaste matar-me cruelmente;
Como a ti mesmo deves castigar,
Acrescentando ao mal que a ti fizeste,
E vil injúria de uma bofetada?"
- Quanto a mim, respondeu p homem calvo,
Posso reconciliar-me facilmente;
Sei que não tinha desígnio de ferir-me;
Mas és tu um vil animal importuno,
Que gostas de chupar o sangue humano,
Quisera de picado dar-te a morte,
Inda que a mim fizesse mal maior.
Lição
Esta fábula ensina que se concede o perdão, com maior facilidade àquele que delinque sem pensar, do que àquele que peca de forma pensada pensada.
É, pois, incontestável que este último mereça toda a sorte de castigo.
* * *
O CAÇADOR E O CÃO
Um cão muito vigoroso em perseguir
Outros brutos mais leves na carreira,
Tinha rendido sempre bons serviços
Ao seu senhor; enfim veio a fazer-se
Já debaixo do peso dos seus anos,
Enfermo gravemente, e muito frouxo.
Este com um javali lutando um dia
Com bravura o agarrou por uma orelha;
Mas como já tinha dos dentes podres,
Por já não poder mais, largou a preza.
Irado o caçado o descompõe;
O velho cão responde como pode:
- "Se acaso mal te sirvo, certamente
Não é porque me falte ainda o valor,
As forças tão somente me deixaram.
Tu louvas o que fui em outro tempo,
O que não posso ser, é que condenas."
Lição
Esta fábula nos ensina que nós humanos só damos valor àqueles que de alguma forma ainda nos servem.
* * *
O LEÃO E O RATO
Enquanto no bosque dormia o bravo leão,
Uns detestáveis ratos se divertiam;
Acontece que um deles descuidou-se e pisou no seu corpo
O leão, despertado em sobressalto,
Com muita presteza agarra o pequeno infeliz,
Que o perdão logo lhe suplica;
E à imprudência sua o crime imputa.
O rei dos animais já persuadido
que não é de sua honra a vil vingança.
Generoso perdoa, e o deixa ir.
Poucos dias depois, a mesma fera
Em campanha caçando numa noite escura,
Descuida e cai num grande fosso.
E vendo-se ali preso na esparrela,
Entrou logo a rugir com grande força.
A tão terrível voz o rato acode,
E mui compadecido assim lhe diz:
Não temas, ó leão, porque vos quero
Um serviço fazer, que corresponda
Ao grande benefício, que eu de vós
Ha pouco recebi, que me não esqueço.
No mesmo instante entrou a examinar
O tecido do laço insidioso,
E depois de ter dado várias voltas
Ao redor dos cordéis, que tinham nós,
Principia a roê-los de tal sorte,
Que em breve tempo fez muitas largas
As malhas engenhosas desta rede.
Por este meio deu ao leão preso
Em pouco tempo o poder e a liberdade.
.
Lição
Nunca podemos imaginar de onde virá a ajuda de que precisamos nas horas mais difíceis.
Na cabeça descoberta de um careca,
Mordicou uma mosca mui prolixa;
Este logo, com intento de esmagá-la
Dá em si próprio om grande bofetão.
A mosca diz então por zombaria:
- "Se tu te vingares da picada
De um inseto volante tão pequeno,
Intentaste matar-me cruelmente;
Como a ti mesmo deves castigar,
Acrescentando ao mal que a ti fizeste,
E vil injúria de uma bofetada?"
- Quanto a mim, respondeu p homem calvo,
Posso reconciliar-me facilmente;
Sei que não tinha desígnio de ferir-me;
Mas és tu um vil animal importuno,
Que gostas de chupar o sangue humano,
Quisera de picado dar-te a morte,
Inda que a mim fizesse mal maior.
Lição
Esta fábula ensina que se concede o perdão, com maior facilidade àquele que delinque sem pensar, do que àquele que peca de forma pensada pensada.
É, pois, incontestável que este último mereça toda a sorte de castigo.
* * *
O CAÇADOR E O CÃO
Um cão muito vigoroso em perseguir
Outros brutos mais leves na carreira,
Tinha rendido sempre bons serviços
Ao seu senhor; enfim veio a fazer-se
Já debaixo do peso dos seus anos,
Enfermo gravemente, e muito frouxo.
Este com um javali lutando um dia
Com bravura o agarrou por uma orelha;
Mas como já tinha dos dentes podres,
Por já não poder mais, largou a preza.
Irado o caçado o descompõe;
O velho cão responde como pode:
- "Se acaso mal te sirvo, certamente
Não é porque me falte ainda o valor,
As forças tão somente me deixaram.
Tu louvas o que fui em outro tempo,
O que não posso ser, é que condenas."
Lição
Esta fábula nos ensina que nós humanos só damos valor àqueles que de alguma forma ainda nos servem.
* * *
O LEÃO E O RATO
Enquanto no bosque dormia o bravo leão,
Uns detestáveis ratos se divertiam;
Acontece que um deles descuidou-se e pisou no seu corpo
O leão, despertado em sobressalto,
Com muita presteza agarra o pequeno infeliz,
Que o perdão logo lhe suplica;
E à imprudência sua o crime imputa.
O rei dos animais já persuadido
que não é de sua honra a vil vingança.
Generoso perdoa, e o deixa ir.
Poucos dias depois, a mesma fera
Em campanha caçando numa noite escura,
Descuida e cai num grande fosso.
E vendo-se ali preso na esparrela,
Entrou logo a rugir com grande força.
A tão terrível voz o rato acode,
E mui compadecido assim lhe diz:
Não temas, ó leão, porque vos quero
Um serviço fazer, que corresponda
Ao grande benefício, que eu de vós
Ha pouco recebi, que me não esqueço.
No mesmo instante entrou a examinar
O tecido do laço insidioso,
E depois de ter dado várias voltas
Ao redor dos cordéis, que tinham nós,
Principia a roê-los de tal sorte,
Que em breve tempo fez muitas largas
As malhas engenhosas desta rede.
Por este meio deu ao leão preso
Em pouco tempo o poder e a liberdade.
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Lição
Nunca podemos imaginar de onde virá a ajuda de que precisamos nas horas mais difíceis.
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