terça-feira, 24 de outubro de 2017

AS FÁBULAS DE LÁ FONTAINE - Por Nicéas Romeo Zanchett


BIOGRAFIA DE LA FONTAINE 

                   Jean de La Fontaine viveu desordenadamente grande parte da sua vida. Ele foi um literato de índole irrequieta e inconstante; todavia, seu amor aos estudos clássicos e particularmente pelos portas Virgílio e Horácio, mitigaram nele aquele senso de moleza e abandono egoístico ao ócio e às cômodas situações da vida.
                    Devido à sua índole incrivelmente volúvel, Jean de Lá Fontaine não conseguiu jamais disciplinar sua vontade; na verdade abandonou, depois de alguns anos, o emprego que o pai lhe conseguira e parece que apenas por breve tempo exerceu a profissão de advogado. Dele sabemos unicamente, com certeza, que viveu como um literato parasita, à mercê dos protetores, que o recebiam entre os estudiosos de seus salões, na faustosa Paris de Luiz XV. 
                      A Corte da França, no século XVII, a faustosa Corte do rei Sol, tinha marcada predileção pela poesia. O rei e os seus senhores de seu séquito divertiam-se em ouvir as composições dos poetas, encorajavam-nos e protegiam-nos. Segundo a moda do século, tudo servia de motivo para compor versos: histórias sagradas e profanas, poemas morais e religiosos, poesias de circunstâncias, que celebravam os acontecimentos e os fastos da Corte, poesias satíricas, mas sobretudo as brejeiras e galantes, que melhor convinham ao ambiente elegante e mundano.
                   Mas entre tantos compositores de versos, um se destaca de todos e representa, realmente, a grandeza poética de seu século: Jean de La Fontaine. 
                   Ele nascera em 1621, em uma cidadezinha do Norte da França: Chàteau-Thierry. Não temos notícias muito seguras quanto à sua primeira mocidade nem sobre os estudos feitos. Sabemos que estudou latim, mas que não conhecia grego; leu clássicos gregos nas traduções latinas e apaixonou-se especialmente por Plutarco e Platão, além de, naturalmente, de Homero.
               A vida de Lá Fontaine é pobre de acontecimentos, e aqueles poucos que conhecemos possuem o único interesse de estarem ligados ao nome do grande poeta. Casou-se aos 26 anos para agradar a seus pais; depois, dedicando-se aos estudos de Direito, acabou se aborrecendo bem cedo da profissão de advogado e sua vida se dividiu entre Paris e a cidade natal, e pouco a pouco os liames de família se foram afrouxando até se dissolverem  quase completamente. Jean nascera em um ambiente burguês, mas seu caráter era tipicamente adverso à vida ordenada e metódica. Gostava de flanar, estudar para distrair-se, não tolerava restrições nem sujeições. Dada a falta de vontade que ele mesmo repetidamente confessa, não tentou jamais modificar seu próprio temperamento volúvel e amante de diversões poéticas e de viver no mundo da fantasia. 
              Ele mesmo nos revelou o próprio caráter através de suas ações e, melhor ainda, de sua obras; homem ingênuo, sonhador, mais ocupado com a poesia do que pelos negócios da família, sem preocupações quanto ao presente e muito menos pelo futuro. 
                Devido à sua falta de senso prático, encontrou-se frequentemente, em dificuldades materiais; viveu sempre de generosas proteções, mas esta vida de parasita, que a nós pode parecer humilhante, não parecia tal, em um século em que os senhores, seguindo o exemplo do rei, consideravam uma glória rodear-se de escritores e artistas.
               A vocação poética nele se revelou declamando uma Ode de Malherbe. Cheio de entusiasmo, passou a ler este autor, a meditá-lo, a imitá-lo. Compelido pelo seu amor pelos poetas latinos, próprioo foi apresentado à duquesa de Boillon. Ela apreciou o talento espontâneo do jovem poeta provincial, encorajou-o e induziu-o a estabelecer-se definitivamente em Paris. Aqui La Fontaine teve oportunidade de aprofundar seus estudos, de ampliar suas relações no mundo social e literário. 
                       O primeiro trabalho que o tornou conhecido foi uma adaptação de versos, de uma comédia latina de Terêncio. O superintendente das finanças, Fouquet, simpatizou com ele, tratando-o com muita generosidade. Para ele, La Fontaine compôs os poemas "Adônis" e "O Sonho de Vaux". Este último devia ser a exaltação do fausto e da glória de Fouquet, mas não foi completado, porque o ministro, caindo em desgraça, foi condenado como criminoso de Estado. Fiel ao seu benfeitor, o poeta ousou compor uma comovedora "Elegia" e depois uma "Ode ao Rei", ambas para implorar a clemência de Luis XIV para o ministro prisioneiro. Perdera um protetor, mas La Fontaine logo encontrou outros, também bastante generosos e capazes de apreciar não só o seu talento poético, mas ainda a simples bondade de sua alma. Não foi de resto, uma generosidade desperdiçada, o poeta recompensou seus benfeitores (senhores e nobres dama, mais ou menos famosos) dedicando a eles sua produção poética e ligando-lhes, assim, a recordação à sua imperecível glória. 
                        Em Paris, La Fontaine estreitou amizade com os melhores talentos de seu tempo: Boileu,  Molière, Racine. Neste período, depois dos quarenta anos, começou a compor suas novelas e a publicar as coletâneas intituladas "Contos e Novelas em Versos". O assunto de contos foi extraído, em grande parte, de Machiavelli, Boccáccio, Ariosto, além de Ovídio e da novelística popular francesa. Neste gênero literário, La Fontaine encontrou o campo em que poderia livremente exprimir seu espírito alegre, estroso, livre de escrúpulos morais. Estas líricas galantes, de conteúdo quase sempre licencioso, são escritas em tom brincalhão e cético. Tiveram enorme sucesso. Infelizmente, os argumentos das histórias são, geralmente, imorais, mas o estilo é elegante, cheio de finura e de espírito. Revelam-nos a habilidade do poeta em observar o colher do real, com poucos traços, os tipos mais diferentes; muitas vezes, os contos são animados por observações maliciosas, reflexões pessoais, que preludiam as "Fábulas". Estas histórias provocaram contra La Fontaine muitas desaprovações; quando foi eleito membro da Academia, precisou ouvir um discurso em que não faltaram censuras nem exortações para "prosseguir" no caminho da virtude e unir à pureza da vida aquela de estilo. 
                   Como diz claramente no prefácio da primeira seleta, La Fontaine estava sinceramente convicto de que os seus "Contos" não representavam um perigo para a moral nem pudessem perturbar os espíritos. Todavia, mais tarde, durante uma grave enfermidade, prometeu ao seu confessor que pediria, publicamente, perdão a deus pelo que escrevera. Restabelecendo-se, manteve a promessa, manifestando seu ato de contrição perante a Academia, durante a primeira sessão de que participou e prometendo renunciar à publicação de seus contos e novelas, porque suas velhas ideias não mais condiziam com seu atual pensamento.  Nos últimos anos de sua vida, a força do engenho se lhe foi enfraquecendo, com as energias físicas. Viu aproximar-se a morte, com resignação, e até a predisse, em uma carta a um velho amigo ao qual escreveu, em 10 de fevereiro de 1695 "Antes que você receba esta carta, as portas da Eternidade talvez já estejam abertas para mim". Realmente faleceu em paris, no dia 13 de abril do mesmo ano. 
                  Nós estamos habituados a considerar La Fontaine sobretudo como poeta dos "Contos" e das Fábulas". Mas antes, durante e depois destas obras maiores, ele escreveu, em prosa e em verso, sobre os mais diversos assuntos. Suas cartas, por exemplo, são um modelo de ingênua simplicidade, e revelam-nos gostos, sentimentos e mágoas de seu coração. As dedicatórias, os prefácios de sua obras e a "Vida de Esopo Frígio", que precedem a primeira coletânea de fábulas, são escritos em uma prosa elegante e muito viva. A exemplo do escritor latino Apúleu, compôs, também, um romance intitulado "Os Amores de Psique e Cupido". Mas a glória universal de La Fontaine está ligada às fábulas. Estas representam, realmente, sua obra-prima. 
                     A fábula é um gênero literário antiquíssimo; basta pensar em Esopo e em Fedro. Outras fábulas de origem popular tinham sido compostas durante a Idade Média. O poeta hauriu, pois, nestas fontes e em outras diversas, mas soube fazê-las, suas, dar-lhes um caráter pessoal e inconfundível.  Como todos os grande escritores de seu tempo, dedicava um verdadeiro culto pelos antigos e esta espécie de sagrado respeito induzia-o a consider-se inferior. Entretanto, La Fontaine escreveu, certa vez: "A minha imitação não é uma servidão." Na verdade retoma a fábula clássica, mas renova e a torna mais rica e mais profunda, sem tirar-lhe nada de sua clareza. Ele soube observar a natureza e os animais e lançou em suas fábulas o tesouro das observações apanhadas pelo seu espírito agudo e curioso, e pela sua viva inteligência . Nas fábulas, ele é deveras poeta universal. Não dominado por objetivos morais e didáticos, e também, se a dedicatória ao Delfim afirma. "eu me sirvo dos animais para instruir os homens", ele se limita a ver, constatar e pintar. 
                   É o poeta que observa como vivem os homens, com suas fraquezas, com seus sentimentos generosos ou mesquinhos, que os impelem a agir. La Fontaine colhe na sua realidade os tipos humanos e os retrata com veracidade, cada qual com sua linguagem e a mentalidade que são peculiares às suas condições. Mas a fantasia do poeta soube transformar cada um destes personagens e os apresenta sob as vestes de animais, em tipos universais. Cada fábula é um pequeno drama, que representa os mil dramas de que a vida cotidiana dos homens está embebida. O poeta vê a realidade com límpido olhar de criança, mas também com a sábia ironia do homem maduro, com malícia bonacheirona, que é própria de seu caráter. 
                     Estas composições poéticas, breves, perfeitas, tão diferentes nas mil caricaturas dos defeitos e dos vícios humanos, condizem perfeitamente ao seu temperamento de autor, volúvel, cheio de fantasia, incapaz de aplicação prolongada, tanto que escreve, no epílogo IV volume das "Fábulas": "os trabalhos longos assustam-me". Através de cada fábula, que é um modelo de concisão, o poeta nos pinta, em traços rápidos e eficazes, a vida social, a natureza, a política, o homem, humilde ou poderoso. 
                   Os versos de La Fontaine, em sua cristalina pureza, possuem uma poderosa eficácia, justamente porque são simples e espontâneos, livres do tom enfático e empolado que encontramos em tantos escritores da época. 
                  Eis porque as fábula de La Fontaine permanecem jovens.
                   As fábulas encontram-se reunidas em doze volumes. A coletânea dos seis primeiros foi publicada em 1668 e obteve enorme sucesso. Os outros volumes saíram em 1671, em 1678/79 e em 1694.  Em vinte e cinco anos, as "Fábulas" foram impressas trinta e sete vezes. 
                Quais são as mais belas? Madame de Sévigné  escrevia, depois da publicação da segunda seleta: "julgamos a princípio distinguir alguma, , à força de lê-las e relê-las, acabamos achando todas belas. E a quem lhe pedia um juízo, respondia: "É uma cestinha de cerejas; escolhem-se as mais belas e acabamos esvaziando-a, sem percebê-lo."
    
O LOBO E O CÃO
Um lobo espantosamente magro encontrou um cão gordo e bem nutrido. Não podendo atacá-lo, chegou-se a ele humildemente, e o cão lhe disse que, se desejasse viver tão bem quanto ele, era só acompanhá-lo até sua casa. Mas, quando o lobo viu a marca que a coleira deixara no pescoço do cão, alegou que preferia passar fome a perder a liberdade. 

*

OS DOIS BURROS
Dois burros caminhavam um ao lado do outro. Um carregava aveia e, outro, dinheiro. O segundo, orgulhoso de sua carga, caminhou todo ancho. Surgiram dois bandidos, que se atiraram sobre ele e o cobriram de pancadas. O outro burro, então, lhe disse: "Amigo, nem sempre é bom ter emprego importante. Se você estivesse servindo um moleiro, como eu sirvo, estaria são e salvo. 



O LEÃO E O BURRO VÃO à CAÇA 
Certo dia, um leão pensou em ir à caça e, para desentocar os animais, fez-se acompanhar por um burro, ao qual ordenou que ficasse escondido na moita, a zurrar. Os bichos da floresta, apavorados com aquela voz insólita, fugiram e foram cair nas garras do leão. O burro atribuiu, então, todo o mérito da caçada si, mas o leão lhe respondeu: "Eu também me espantaria com o seu zurro, se não conhecesse você e sua raça."

 * 

  O LEÃO E O MOSQUITO 
Uma vez um mosquito declarou guerra ao leão, dizendo-lhe que pouco se importava com seu título de rei. Dito isso, começou a picá-lo por todos os lados, tornando-o furioso, não lhe dando trégua, até que o leão caiu esgotado. O inseto, então, se retirou cheio de orgulho, mas, enquanto ia anunciar a todos os demais bichos sua vitória, caiu numa traiçoeira teia de uma pequena aranha. 

 *

O REI, O MILHAFRE E O CAÇADOR 
Vivo, no ninho, um caçador pegou, 
Uma vez, um milhafre, e o destinou

Ao príncipe por mimo. Era precioso,
porque raro, o presente. 

Timidamente dado ao poderoso, 
O pássaro, se o conto não nos mente, 
Imprime logo a garra - ó impiedade! -
Bem no nariz da Sua majestade. 
- Como no real nariz? - Do próprio rei. 
- Não trazia a coroa então, já sei...
- E que o trouxesse! O pássaro não quis 
Investigar de quem fosse o nariz. 
Renuncio a pintar, por não ter cores, 
Dos cortesões a lástima, os clamores. 
Quieto o rei ficou, porque já vêem
Que a majestade os gritos não vão bem. 
Quedo também no olímpico poleiro
O pássaro ficou, muito lampeiro. 
O dono o chama e grita e se afadiga
Mostra-lhe o engodo, o punho, qual cantiga! 
Parecia que ao bicho apetecia, 
Embora o ruído, ali passar o dia
E pernoitar ainda empoleirado
No nariz inviolável e sagrado. 
Tentar tirá-lo era o irritar. Enfim 
Resolveu-se a largar o rei, e assim
Este falou: - "Deixai que vão em paz
O milhafre e o rapaz. 
Bem se saíram, fosse como fosse,  
Um milhafre, outro, rústico mostrou-se. 
E eu, que como um rei deve de obrar, 
Do suplício hei por bem de aliviar! 
Pasmou a corte. Os cortesões não cessam 
De exaltar feitos tais, não quero que os conheçam: 
Muito poucos, e fossem reis até, 
Fariam como este . o certo é
Que se livros de boa o caçador; 
E o seu erro maior, 
O dele e o do animal, foi não saber
Que é mau do amo aproximar-se tanto. 
Se os tristes, entretanto, 
Só com os do mato usavam de se haver!...
.
Diz Pilpay que se deu na Índia o caso. 
Naquela terra, um repeito absoluto
Vota o homem ao bruto. 
O próprio rei temeu tocar-lhe, acaso. 
Pensava em si:
- E quem nos diz que esta ave de rapina
Não combateu em Troia, e que alta sina
De príncipe e de herói não teve ali? 
E a ser o que já foi, pode tornar. 
Pitágoras ensina
Que com brutos a forma perguntamos: 
Humanos ora estamos. 
Logo voláteis recortando o ar. 
.
Como o canto varia, 
A segunda versão ora ofereço. 
.
Contam que certo caçador, um dia, 
Um milhafre apanhou (raro sucesso)
E ao rei o foi levar
Como presente muito singular; 
Uma vez em cem anos nos acontece; 
É o cúmulo da caça. 
Rompe de cortesões cerrada massa
O caçador, aceso de interesse. 
Já pensa que enriquece; 
Com tal presente verdadeira mina; 
Mas a ave de rapina, 
Nunca educada para estar no paço, 
As rígidas unhas d'aço
Ferra ao nariz do mísero sujeito.
Ei-lo a gritar, e eis em riso desfeito
Príncipe e cortesões. Quem não riria? 
Eu não  me conteria. 
Que um papa ria, isso, em boa fé. 
Não me atrevo a jurar; mas olhem que é 
Bem desgraçado um rei que nunca ria; 
É o prazer dos deuses. Apesar
Dos cuidados, ri Jové e os imortais. 
A crer, deve-se crer - 
Nas velhas tradições de nossos pais, 
Rui, riu a arrebentar,
Quando uma vez lhe trouxe de beber
Vulcano, o coxo. O que houve lá não sei, 
Mas com razão a fábula variei; 
Pois, já que aqui se trata de moral,
A aventura não era original; 
Um caçador simplório é mais frequente
Do que um rei indulgente. 

*          *           * 
  

A RAPOSA E AS UVAS
Contam que certa raposa, 
Andando muito esfaimada,  
Viu roxos, maduros cachos
Pendentes de alta latada.
De bom grado os trincaria; 
Mas, sem lhes poder chegar. 
Disse: "estão verdes, não prestam,
Só cães os podem tragar."
Eis que cai uma parra, quando
prosseguia o seu caminho; 
E crendo que era algum bago
Volta depressa o focinho. 

*          *          * 

O AVARENTO 
Quem não usa não tem, reza o adágio; 
É bem verdadeiro;
Pois nada prestará, sem desfrutá-lo, 
Acumular dinheiro.
Esopo no seu conto
Do tesouro escondido
Fornece belo exemplo ao nosso ponto
.
Hore outrora um avarento
que ouro sobre ouro juntava, 
E nem um real gastava; 
Dele escravo e não senhor, 
Ao vê- imaginaríeis
Que fortuna assim unida, 
Guardava para outra vida, 
Para outro mundo melhor. 
.
Enterrou-o numa cova, 
E a alma enterrou com ele. 
Coma, beba, durma, vele, 
O seu único prazer
É pensar a cada instante
No seu virginal erário, 
Que adora como sacrário, 
E a cada instante ia-lo ver.
.
Foi lá, foi lá tantas vezes. 
Que um cavador, com suspeita
Do mistério, a cova estreita
Abriu, e tudo roubou. 
Pouco depois o avarento
O passeio costumado
Fez ao seu a ouro adorado; 
Mas... só o ninho lhe achou!
.
Pasma, lágrimas derrama, 
Soluça; geme; suspira; 
De raiva os cabelos tira. 
É um sonho! não o crê. 
Nisto acaso um viajante
Por aquele lugar passava, 
E com dó de tal desgraça
Pede a razão do que vê. 
.
- Roubaram-me o meu tesouro! 
- O teu tesouro roubaram? 
E em que lugar o encontraram? 
- Junto desta pedra; aqui. 
- Porque o trouxeste tão longe? 
Receitas alguma guerra, 
Para o esconderes na terra
De todos, e até de ti? 

Veio espairecer no campo? 
Antes em casa guardado
Estivesse a bom recado, 
E tu vê-lo e a gastar. 
- Eu gastar o meu dinheiro! 
O meu dinheiro! estás louco! 
Custa a ganhá-lo tão pouco? 
Eu nunca lhe ousei tocar. 
.
- Que me dizes? Impossível! 
- Nunca. - Então inútil era. 
E isso te desespera?!
Famoso! deixem-me rir! 
Nesse caso põe na cova
Uma pedra; o mesmo importa
Que a tua riqueza morta; 
Do mesmo te há de servir. 
.
 Obras traduzidas por Bocage e adaptadas por Nicéas Romeo Zanchett. 

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