quinta-feira, 26 de outubro de 2017

FÁBULAS DE ESOPO - Adaptação Nicéas Romeo Zanchett

QUEM FOI ESOPO 
Esopo foi um fabulista grego; segundo a tradição é o suposto autor de uma coleção de fábulas, algumas das quais datam dos antigos tempos dos egípcios. Muitas das notícias que a ele se referem, (ditos, descrições, dados biográficos, etc.), são meras invenções das últimas épocas da Idade Média. A atual coleção é atribuída, por muitos estudiosos, ao monge Planudo, (século XIV). Ao longo da história foram feitas adaptações por muitos escritores da literatura universal, sendo o mais famoso La Fonfaine que se tornou conhecido como grande fabulista. No Brasil o mais importante foi Monteiro Lobato. 


A CIGARRA E A FORMIGA 
Uma formiga, no inverno, punha ao sol todo o trigo que tinha apanhado durante o verão. Uma cigarra vendo as suas mínimas provisões, aproximou-se pediu que lhe dese um pouco daquele trigo; ao que a formiga respondeu:
- " Minha amiga, que fizeste tu no decorrer do longo verão enquanto eu trabalhava?"
- Ora, andava cantando pleos campos e bosques", respondeu a cigarra, por isso não tive tempo para arranjar provisões".
" _ Pois se cantavas no verão, agora aproveita seu tempo no inverno e dança."
E entrando novamente com o trigo no seu buraco, riu-se da imprevidência da cigarra.
Lição
Devemos aproveitar o tempo bom e trabalhar para que não venhamos a passar por necessidades quando o inverso chegar. 

*           *           *

O LOBO E O CABRITO
Certo dia, um lobo viu um cabritinho que corria por uns campos, longe do seu dono e lançou-se em sua perseguição. O cabritinho viu-o e começou a correr quanto pode, mas sentindo-se quase alcançado pelo lobo, parou, voltou-se para o seu perseguidor e disse-lhe: 
- " Senhor lobo, vejo que não de nada adianta correr e que vai me devorar; antes de morrer só lhe peço um favor para alegrar os meus últimos instantes tocando sua gaita para eu bailar". 
O logo, com toa a sua arrogância, não deu a menor importância àquele pedido estranho, mas tocou sua gaita e fez o cabritinho dançar alegremente, indo e vindo pelo campo. A música atraiu uns cães pastores de uma fazendo próxima os quais ao verem o lobo o puseram precipitada fuga. 
Depois de longa carreira, quando este se viu salvo, pensou tristemente: 
" _ É o resultado de ter me metido onde não era chamado; devi-a tê-lo morto e não por-me a tocar a gaita. 
Lição 
É melhor não nos metermos com aquilo que não nos diz respeito. 

*          *           *

AS ABELHAS E O FRASCO DE MEL 
Um dia um homem pendurou numa árvore do seu jardim um frasco com mel. Em volta voavam muitas abelhas que queriam entrar no frasco para provarem o seu conteúdo. Mas uma vez dentro ficaram pegadas ao mel e pouquíssimas conseguiram fugir, morrendo as outras, em pouco tempo. 
Lição 
Se adquirirmos maus hábitos dificilmente nos livraremos deles. 

*          *           *

O VELHO CÃO DE CAÇA
Um velho cão de caça que tinha trabalhado muito durante longos anos, estava velho, cansado e doente. Mas mesmo assim seu dono insistia em levá-lo durante as caçadas.
Por uma ocasião duma batida de caça aos veados da montanha, ele foi o primeiro a alcançar um deles; agarrou-o por uma de suas patas, mas os dentes não resistiram o suficiente para segurar aquele veado até a chegada de seu dono, e este escapou-lhe.
Muito raivoso, o dono começou a bater-lhe com um chicote. O pobre cão, desesperado disse-lhe tristemente: 
- " Senhor, não bata no seu mais antigo servo; eu de boa vontade o serviria com antes, mas faltam-me as forças. Se não sou agora de grande utilidade, lembre-se dos serviços que outrora lhe prestei". 
Lição 
Não devemos desprezar os velhos pela sua fraqueza e falta de energia. Lembremo-nos dos bons trabalhos que executaram quando tinham forças para isso. 

*           *           * 

O RATO DA CIDADE E DO CAMPO 
Em certa ocasião um rato que morava na cidade foi visitar um amigo seu que morava no campo, e lá foi muito bem recebido pelo amigo; dentro da toca o anfitrião lhe ofereceu pedaços de pão, favas e cevada que juntos comeram com a maior alegria. 
Para retribuir tanta gentileza, o rato da cidade convidou seu amigo a fazer uma visita aos seus domínios.Este prontamente atendeu ao convite.
 Quando se encontravam juntos numa bela dispensa dum palácio da cidade disse: " - Meu amigo poder comer o que te apetecer pois as provisões daqui são abundantes e variadas; além disso, escolho o que há de melhor. 
Estavam saboreando as mais apetitosas carnes quando de repente abriu-se a porta da dispensa e entrou p cozinheiro; os ratos assustaram-se e cada um fugiu para seu lado; o rato da da cidade já conhecia bem todos os esconderijos, mas o do campo nada sabia e ficou assutado e perdido. 
Assim que o cozinheiro fechou a dispensa e desapareceu, saíram de novo juntos. O rato da cidade disse: 
" _ Vem cá amigo, aproveita e vamos comer; olha que abundantes víveres. 
" - Realmente é tudo muito bom", respondeu o ratinho do campo, "- mas dize-me, este perigo costuma acontecer com frequência?"
" - Sim", respondeu o outro, "isto acontece a todo o momento e por isso mesmo não lhe devemos dar importância. 
" - Ah!..." respondeu o do campo, "então isto acontece todos os dias?  e acrescentou: é bem verdade que vives num meio de grande opulência, mas eu prefiro a tranquilidade da  minha pobreza que o alvoroço da tua abundância". 
Lição  
A felicidade no meio da riqueza, muitas vezes aparente, em geral é cheia de amarguras e cuidados. Na maioria das vezes são mais felizes os pobres que os ricos. 

*          *           * 

A GALINHA E O TOPÁZIO 
Uma certa galinha revolvia um monturo e encontrou uma pedra preciosa e lhe disse: 
- Como te encontras tu aqui nesta sujeira? Se algum ourives te tivesse encontrado ficaria muito contente e restituir-te ia o brilho; mas para mim de nada me serve e nem te aprecio. 
Lição
Os tolos e ignorantes não apreciam a ciência e a sabedoria, e por isso nunca deixarão de ser tolos e ignorantes.


*           *            * 

AS RÃS E OS TOUROS
Um certo dia uma rã estava à borda d'um lago contemplando dois touros que brigavam numa planície de pastagem.
- Ola que grande luta", disse a uma companheira. Que será feito de nós se eles vieram aqui? - 
- É melhor não nos assustarmos, respondeu a outra; não temos nada a ver com as lutas desse animais. Não são da nossa classe. 
- É verdade, disse a primeira, mas julgo que aquele que for vencido virá procurar refúgio por estas pastagens e poderá nos comer se não estivermos muito atentas. Como vês não é sem razão que me preocupa aquela luta.
Lição 
Quando os fortes lutam os fracos sofrem as consequências.

*           *           *

A DEUSA E A ÁRVORE
Um dia os deuses lembraram-se de cada um colher uma árvore para protegerem-na e guardá-la.
Júpiter escolheu o carvalho, Vênus o mirto, Hércules o álamo, Minerva - a deusa da sabedoria - reservou para si a oliveira e disse: 
- Eu prefiro esta árvore porque produz uma grande quantidade de frutos úteis.
- Tens razão, respondeu Júpiter,  e vejo que é razoável que honrem a tua sabedoria. Com efeito se nas nossas ações não encontrarmos um benefício é um disparate fazê-las apenas por vangloria.
Lição
Façamos com que as nossas ações sejam prudentes e úteis. 


*          *          * 

O LEÃO APAIXONADO 
Um certo leão apaixonou-se pela filha d'um lavrador, e desejando casar-se com ela, foi ter com o pai da moça e pediu-a com todas as formalidades. Como era de se esperar o bom homem negou-lhe aquela estranha proposta; mas, ao mesmo tempo, sentiu-se orgulhoso por ter tido a filha pedida em casamento por um rei.
Quanto à fera, não se conformou e logo pô-se a ranger os dentes e a ameaçar a todos; o lavrador então achou mais prudente apoiar os estranhos desejos do leão, evitando assim o seu desespero, dizendo-lhe: 
- Senhor Leão, não vejo nenhum inconveniente em lhe ceder minha filha em casamento, mas é preciso que antes me deixe arrancar suas unhas e dentes para que minha filha não viva aterrorizada ao seu lado. 
O leão estava tão apaixonado e não viu nada de mais com aquela exigência de um pai.
Assim que o lavrador percebeu que a fera já não mais lhe fazia medo apossou-se de uma cabo de enxada e o pôs para correr a pauladas. 
Lição 
A paixão pode ser um sentimento perigoso. Aquele que de alguma maneira se entrega ao seu inimigo terá sempre que sofrer a sorte dos vencidos. 


*           *           * 
O VEADO E O BOI 
Um veado que estava fugindo d'uns caçadores acabou entrando num estábulo e pediu ao boi que lá se encontrava que o deixasse se esconder ali. O boi não se opôs a este pedido, mas disse: 
- Mesmo aqui você não está muito seguro porque daqui à pouco virão os criados e o fazendeiro. 
- Contudo, disse o veado, não me denunciando me sentirei seguro. 
Dai a pouco entraram os caçadores e não repararam no veado; entrou também um mateiro e tão pouco o viu, mas, logo chegou o fazendeiro e começou a inspecionar as manjedouras e todos os cantos para evitar descuidos dos criados, e descobriu debaixo do feno as hastes do veado, e imediatamente deu ordem para matá-lo.
Lição
Não se deve confiar tudo aos outros; ninguém olha melhor pelas suas coisas que o verdadeiro interessado. 

*           *           * 

A GATA, A ÁGUIA  E A PORCA 
No alto dum carvalho, uma águia tinha o seu ninho. Logo abaixo, num buraco no meio do tronco vivia uma gata com seus filhotes e em baixo, ao pé da árvore, habitava uma porca com os seus leitõezinhos. 
Um dia a gata subiu até o ninho da águia e disse-lhe:
- Minha amiga e vizinha, está em grande perigo; esta asquerosa porca que vive lá embaixo não faz outra coisa senão roer as raízes da nossa árvore para fazê-la cair e devorar os seus filhinhos. Faça o que quizer; eu, pela minha parte, ficarei em casa vigiando essa odiosa fera.
Dito isto, a gata desapareceu deixando a águia muito assustada e foi ter com a porca. 
- Senhora vizinha, disse-lhe ela em tom delicado, creio e espero que hoje não pretendas sair.
- Porque não?, perguntou a porca. 
- Oh!, tornou a gata com muita esperteza, ouvi a, vizinha do alto, protendo uns leitõezinhos aos seus filhotes tão logo tu os tenha deixados sozinhos durante seus passeios; como somos amigas vim logo lhe  prevenir. Não posso demorar-me, pois, de repente, essa malvada águia pode roubar algum dos meus gatinhos. 
Depois dessa fofoca a gata só saia à noite para procurar comida, de modo que tanto a águia como a porca pensaram que ela estava sempre cuidando dos seus filhos e assim não ousaram sair de casa, e seus  filhinhos acabaram por morrer de fome; o que facilitou seu trabalho alimentar seus gatinhos. 
Lição
Nunca devemos ouvir fofocas e nem confiar em mentirosos. 

*           *           *
O LEÃO E OS QUATRO BOIS 
Quatro bois que sempre pastavam num lindo prado, juraram eterna amizade e quando um leão os atacava, defendiam-se juntos e  tão bem nunca nenhum deles morria. 
Depois de muitas investidas, o leão compreendeu que de nada adiantava tentar enquanto estivessem unidos e por isso tratou de armar uma intriga entre eles. Aproximou-se amigavelmente de cada um deles e disse, de forma separada e até secreta, que os outros dois o aborreciam quando vinham lhe falar mal dele. Desta maneira criou-se uma desconfiança entre os três amigos e tudo era motivo de suspeita entre eles. Não demorou muito e a aliança foi finalmente desfeita. 
Dessa forma o leão pode atacar e devorar cada um individualmente. Quando chegou a vez do último boi morrer, exclamou: 
- Só nós é que somos culpados pela nossa morte por ter dado crédito às falsas palavras do leão. Mas já não havia mais nada a fazer. 
Lição
A união faz a força. "Um por todos e todos por um, como faziam os Três Mosqueteiros.

*          *          * 

A FORMIGA, A POMBA E O CAÇADOR
Uma formiga caiu na água, e teria morrido afogada se uma  bondosa pomba não tivesse lhe lançado um ramo de árvore para usá-la como bia e navegar até à margem. 
Eis que de repente chega um caçador e prepara sua arma para atirar na pomba; a formiga,vendo isto e o perigo que corria a sua benfeitora, pressa o passo e vai dar uma forte picada no pé do caçador, obrigando-o a voltar a cara e deixar cair a arma. Com o ruído que esta fez, a pomba foi avisada do perigo que corria e fugiu. 
Lição
Amor com amor se paga. 

*          *           *

O HOMEM E A SERPENTE 
Movido pelo seu bom coração,um nobre camponês recolheu na sua casa uma cobra, cuidando dela e sustentando-a durante os frios e os rigores do inverno. Quando chegou o verão e o réptil reanimou-se com o calor, tentando dar cabo do bondoso homem, que ao ver tanta ingratidão a expulsou de casa.  
Lição 
Os ingratos só sabem pagar com o mal. 

*          *          *

O CÃO E O PEDAÇO DE CARNE
Um cão, que passava à borda dum rio, levava na boca um pedaço de carne, viu-o refletir na água e pareceu-lhe  que era um pedaço maior e por isso deixou cair o que tinha na boca para apanhar o outro ficando assim sem a verdadeira e sem a falsa. 
Lição 
Ninguém se contenta com a sua sorte, e a ambição faz a desgraça de muitos. 

*          *          *


O BURRO E OS CAMINHANTES
Uns homens que andavam perdidos encontraram, por acaso, um burro. Ambos o queriam para si e começaram a discutir qual dos dois havia de ficar com ele, entretanto, enquanto os dois discutiam o burro fugiu deixando-os em iguais circunstâncias. 
Lição 
O egoísmo faz com quem muitos não aproveitem boas oportunidades.

*          *          * 

O CÃO INVEJOSO
Um cão muito invejoso foi deitar numa manjedoura cheia de feno,  e quando os bois vieram para o estábulo não os deixou comer. Um dos bois aproximou-se para tirar um pouco de feno, mas o cão furioso, começou a ladrar e a mostrar os dentes.
"-Animal invejoso", disse-lhe o boi, "como tu és mau! Nem ao menos deixas que me aproveite daquilo que o nosso dono destina para nós e que a ti n]ão te serve para coisa alguma""
Lição
A inveja e o egoísmo criam inimizades gratuitamente. Nada custa deixar que outros aproveitem d'aquilo que não nos falta. 

*          *          *
  
A COTOVIA E SEUS FILHOTES 
Uma cotovia tinha feito o seu ninho numa linda seara. Uma de primavera, antes de sair à procura de comida para seus filhotes, recomendou-lhes  manterem-se sempre alertas e que escutassem tudo o que o lavrador, dono daqueles campos, dissesse, para lhe contarem quando ela voltasse. 
E assim sempre foi. Um dia, no seu regresso,os pequenos contaram-lhe que o lavrador tinha passado por ali com seu filho, e que ambos haviam combinado chamar os vizinhos para os ajudarem a ceifar o trigo.
- Então, disse a cotovia mãe, ainda não há perigo. 
No dia seguinte as cotoviazinhas contaram-lhe que o lavrador tinha passado de novo por ali com o mesmo filho, e que ia dizendo a este que fosse chamar os primos para o ajudarem na colheita.
Quando ouviu isto, a cotovia mãe pensou que o perigo ainda não era iminente.
Ao terceiro dia os passarinhos disseram á mãe que tinham ouvido o lavrador dizer para seu filo: 
- "Amanhã nós mesmo vamos fazer a colheita.
- Ah, sim?, interrogou a prudente cotovia; então é chegada a hora de fugirmos d'aqui. Eu bem sabia que nem os vizinhos nem os parentes do lavrador o ajudariam na tarefa; mas se é ele mesmo que vai ceifar, então não temos outra escolha senão mudar-mo-nos para outro campo. 
Lição
Quem quer faz, quem não quer manda. 

*          *           * 

A RAPOSA E O LEÃO
Uma raposa encontrou pela primeira vez um leão, e o seu aspecto feroz e os terríveis rugidos aterrorizaram-na de tal maneira que caiu por terra a tremer e esteve a ponto de morrer de medo. 
Numa outra ocasião encontrou-se pela segunda vez com o temível rei dos animais e o seu espanto já não foi tão grande e até o esteve admirando a distância.
Quando pela terceira vez se encontraram, a raposa já tinha perdido todo o medo e, aproximando-se tranquilamente do leão, começou uma animada conversa com ele, como se fossem velhos amigos.
Lição 
A convivência muitas vezes leva ao desrespeito. 

*          *          * 

O BURRO E JÚPITER
Um granjeiro possuía um burro que já estava cansado de levar quotidianamente hortaliças para o mercado; Um dia pediu ajuda a Júpiter que lhe concedesse outro dono. 
Júpiter escutou as suas súplicas e deu-lhe por dono um fabricante de tijolos que o fazia ir todos os dias ao povoado com uma grande carga daquele material.
O pobre animal acho, naturalmente, esta tarefa muito mais pesada que a anterior, e pediu de novo a Júpiter que lhe desse outro dono. Desta vez foi trabalhar para um curtidor de peles que o tratou com muito mais crueldade que os outros dois.
Quando o burro quis voltar para o seu primeiro dono, já era muito tarde.
Lição 
Nunca devemos reclamar do trabalho que garante nosso pão de cada dia. Sem ele tudo será mais difícil. 

*          *           * 

O CAVALO E O BURRO
Um cavalo e um burro iam caminhando por uma estrada, seguidos do seu dono. O cavalo não levava carga nenhuma, mas a do burro era tão pesada que ele mal podia andar, e por isso pediu ao seu companheiro que o ajudasse a levar uma parte dela. 
O cavalo, que era egoísta e de mau temperamento, negou-se a prestar ajuda ao pobre burro que de tanto peso não resistiu e caiu morto no meio do caminho. O dono, então, ainda ainda quis
 aliviar sua carga, mas já era tarde demais. Sem outra alternativa, resolveu passar tudo para cima do cavalo. Além disso tirou a pele do burro morto e colocou por cima da carga. 
Assim o cavalo, que não quis fazer um pequeno favor, viu-se obrigado a levar a carga e a sobre-carga.
Lição
Às vezes temos que pagar caro o nosso egoísmo.


*           *           * 

A ELEIÇÃO DA RAINHA DAS AVES
Um dia de primavera, todas as aves se reuniram para eleger uma rainha; surgiram várias dificuldades sobre a maneira de fazer a eleição. 
- A beleza é uma das qualidades que uma rainha deve ostentar, disse o pavão real. Mostremos todas a nossa plumagem.
- Em primeiro lugar está a dignidade, afirmou a coruja. Vejamos quem tem aspecto mais nobre. 
 O papagaio tomou a palavra e disse:
-  precisamos de uma ave que saiba falar melhor para nos defender com argumentos. 
Mas a águia se  manifestou perguntando: 
- O que é que nos leva acima de todos os seres vivos? por acaso não é o voo? e continuou seu argumento dizendo:
- Devemos, então, eleger para rainha aquela ave que mais alto subir ao céu.
E como a águia era robusta e vigorosa, impôs a sua vontade à assembleia. 
A um sinal previamente combinado, todas as aves se lançaram no espaço para ver qual se elevava mais alto. A águia não tardou muito e pairar acima de todas as outras. 
Mas, nesse momento, uma andorinha que ate então tinha ido tranquilamente pousada nos ombros da águia, abandonou o seu posto e elevou-se a uma altura ainda maior. 
Imaginem como ficou contrariada a águia, que já se sentia a rainha, ao ver a assembleia eleger um pássaro tão pequeno e insignificante. 
Lição 
Nem sempre vence o mais forte; a esperteza pode levar o insignificante ao poder.



*          *          * 
O BURRO DESCONTENTE
Num agreste dia de inverno um burro ansiava pela volta da primavera, porque poderia ter a fresca erva em vez da palha seca que lhe serviam numa humilde estrebaria. 
Pouco a pouco foi chegando o bom tempo primaveril e com ele a abundância da sua erva preferida e verdinha; mas o pobre jumento tinha que trabalhar tanto que logo se cansou da primavera e só desejava que chegasse logo  o verão. Quando finalmente viu realizado o seu desejo, o burro convenceu-se de que a situação não melhorara, pois tinha que andar todos os dias, carregado de hortaliças, sofrendo muito com o tórrido calor do sol. 
Só lhe restava desejar a vinda do outono; mas este ele sabia que nessa época era muito duro o trabalho, pois tinha que transportar grandes sacos de trigo, cesto de maçãs, fechos de lenha e outras provisões para o inverno; por isso o burro começou a suspirar pelo inverno em que, pelo menos, poderia descansar, ainda que as rações não fossem as melhores e mais abundantes.
Lição
Contentemo-nos com o que temos, lembrando-nos que há quem sofra muito maiores privações.

*          *           * 

A RAPOSA E A MÁSCARA
Num certo dia de verão, uma raposa passeava polos campos de trigo e encontrou no caminha uma máscara de homem jogada ao chão. Imediatamente pegou-a com muita admiração e imaginando o quem poderia fazer com aquele estranho objeto.
Ao olhar mais de perto percebeu que era oca e começou a rir gostosamente; em fim disse: 
- É uma pena que uma cabeça de rosto tão inteligente não tenha miolos!
Lição
De nada vale a boa aparência para quem não tem juízo. 

*          *          * 

ALGUMAS FÁBULAS DE ESOPO
Arranjadas em quadras
Por F. de Paula Brito.
.

O GALO E A PÉROLA 

Galo de linda plumagem
Num monturo esgravatava, 
As migalhas e os bichinhos
Comento, quantos achava. 
.
Por acaso dentre as unhas
Linda pérola lhe salta, 
Ao vê-la, diz pronto o galo, 
A quem juízo não falta: 
.
"Porque vens,  ó fina pedra, 
A meus olhos te mostrar, 
Se lapidário não sou, 
Que te possa aproveitar ?

Quando no cisco esgravato, 
Vens-me ofender com teu brilho?
Mas me serviras se foras 
Neste instante um grão de milho!"
.
Isto dizendo foi logo,
Outro lugar procurar, 
A linda pedra deixando
Sem nela querer tocar. 

Moralidade

De exemplo serve, aos leitores, 
Esta fábula moral, 
Que lendo tudo, se esquecem
Da obrigação principal.
.
Atrás de coisinhas fúteis, 
O tempo gastam a ler, 
Sem que nos livros aprendam 
O que bom fora saber. 
.
Leem fábulas de Esopo, 
Acham graça e gosto nelas; 
Porém a moral desprezam, 
Que as faz no mundo tão belas!
.

*          *          * 


AS POMBAS E OMILHANO

As Pombas pelo Milhano
Sofrendo perseguição, 
Fugiram dele, e buscaram
A amizade do falcão. 
.
Este, porém, sucedendo 
Na proteção do Milhano, 
Com menos razão do que ele, 
Com elas foi mais tirano. 
.
Se estranhas sendo ao milhano, 
As Pombas o mal sentiram; 
Maior dano o Falcão fez-lhes, 
A quem proteção pediram. 
.
"Do mal a culpa foi nossa, 
Disseram elas então, 
Querendo achar diferença
Entre um Milhano e um Falcão!"
.
Moralidade 
Se dever é do que sofre
De posição melhorar, 
Buscando, sendo possível, 
Bom protetor encontrar;
.
Daqueles, a quem se entrega, 
É bom das baldas saber;
Porque não venha, afinal, 
Em vez de ganhar, perder, 
.
O que às tristes mansa Pombas
Fez o Milhano e o Falcão, 
Faz muita gente, que abusa
De sua posição!
.


*          *          * 

O ASNO E O LEÃO 

Um asno simples e torpe
Com um leão se encontrou, 
E de altivo e presunçoso
Desta sorte murmurou: 
.
"Vai-te daqui! ..." De admirado
Para o Leão... mas pensando 
Em si mais do que no Asno,
Prosseguiu assim falando: 
.
"Punir deste desgraçado
A ousadia, eu bem pudera; 
Mas que ganha numa lesma
Sujar a boca uma fera?"
.
Assim o insulto tomado
Como de quem o dizia, 
Do miserável não pune
A desmarcada ousadia. 
.

Moralidade
Homens nobres e esforçados
Muitas vezes sofrem mais
Do que outros, sendo inferiores, 
 Suportam dos seus iguais.
.
Há néscios, que se entremetem 
Aonde não são chamados, 
E dizem bestialidades
Só por não estarem calados. 
.
Porém os homens sensatos, 
Os fortes, como o Leão, 
Ao ver esses miseráveis
De nojo cospem no chão
.


*          *          * 

JUNO E O PAVÃO
A Juno foi se queixar
Mui descontente o Pavão, 
Dizendo não ser das aves
A de mais estimação. 
.
Que o rouxinol, pequenino, 
Mais vantagens possuía,
Que tinha um cantar tão doce, 
Que em geral o distinguia.
.
Depois de tudo o que ouviu, 
Disse a Deusa, com saber, 
Que ele não tinha motivo
Para tantas queixas fazer. 
.
Que visse que as suas penas, 
Tão cheias de olhos, tão belas, 
Ao clarão do sol brilhavam
Como de noite as estrelas. 
.
"Eu dera tudo isso, torna
O Pavão quase a chorar, 
Para, como o Rouxinol, 
Ter a voz, saber cantar."
.
"Cada qual qual tem sua prenda, 
Disse a Deusa com brandura; 
Tem-na o Rouxinol no canto, 
E o Pavão na formosura."
.
Moralidade
Vê-se aqui que ninguém vive
Nesta vida satisfeito; 
Pois todos querem ter tudo
Ao seu contento a seu jeito.
.
Tem a voz o Rouxinol, 
Ligeireza o Gavião,  
A Águia aforça, e assim todos
No mundo prendados são.
.
Há sábios, homens de letras, 
Poeta, artista, cantor;
As coisa em seus lugares
Pôs no mundo o Criador. 
.


*          *            * 

O CÃO E A OVELHA
Dizendo haver emprestado
Em certo tempo algum pão, 
Paga disto e com maus modos, 
À ovelha pediu o Cão.
.
Porém ela que não tinha
Comido pão emprestado, 
Respondeu, como devia, 
Que o cão estava enganado.
.
 Trouxe este três testemunhos:
Um Buítre, um Lobo e um Milhano, 
Que em favor do cão juraram
Da pobre Ovelha em dano.
.
Foi condenada a pagar 
A Ovelha o que não comeu; 
A lã (o só bem que tinha)
Tosquiada ao credor deu! 
.
Desde então ficou a Ovelha
Quase muda, de assombrada! 
E desde então nunca teve
Lã, que não fosse cortada. 
.

Moralidade
Quando esta fábula Esopo
Traçou, quase que previa
O que no século presente
Por este mundo haveria!
.
Por dinheiro, ou por favores, 
Há quem venda a consciência
Pra servir a um poderoso, 
Para oprimir a inocência.
.
E, sobre falso pretextos,
O rico, que não precisa
De pão, arranca do pobre
A derradeira camisa! 
.


*           *           * 

O RATO E A RÃ
Um rio lago e profundo
Temendo um Rato passar,  
A uma Rã suplicou
A graça de o ajudar.
.
Malfazeja a companheira,
Logo em matá-lo pensou; 
No seu pé e no do Rato
Cautelosa um fio atou.
.
N'água caíram; debalde
Cuidava o Rato em nadar; 
A arteira Rã mergulhava
Somente pra o afogar!
.
Nesta luda em que se achavam, 
Perdido o tempo corria, 
Pois sendo as forças iguais, 
Nem um, nem outro vencia. 
.
Nisto passa e, por acaso, 
Feroz Milhano a voar, 
vendo o rato, cai sobre ele
E de novo se ergue ao ar.

No pé do rato subindo
A Rã também pendurada, 
Foi pela daninha fera
Como o Rato devorada! 
.
Moralidade
Quem falta à fé prometida, 
Sem motivo e sem razão, 
Aos inocentes armando
Ciladas, com vil traição; 
.
Encontra sempre um terceiro, 
Que às vezes desprevenido, 
Do ensejo se aproveitando
Tira pra si bom partido. 
.
O que ao Rato fez a Rã, 
Faz muita gente malvada, 
Até que de um mau nas garras, 
Vem acabar desgraçada.
.


OS LOBOS E AS OVELHAS 
  
Entre os Lobos e as Ovelhas
Havia guerra de morte; 
As Ovelhas com os rafeiros, 
Tinham partido mais forte. 
.
Os Lobos pediram paz, 
Declarando que entregavam 
Seus filhos, e em troca deles 
Os rafeiros desejavam. 
.
feito isto, os filhotes dos Lobos
Logo a uivar começaram
Tanto, e tão forte, que os pais
Astutos os reclamaram.
.
Do contrato a fé querendo, 
As Ovelhas resistiam, 
E os Lobos assim tiveram 
O pretexto que queriam.
.
Às ovelhas declararam
Guerra, certos de as vencer; 
Pois já rafeiros não tinham
Que as pudessem defender! 
.
Assim, com dobrada força
Os ferozes Lobos ficaram,
E os filhos dentre as Ovelhas
A ferro e fogo tiraram. 
.

Moralidade

Ninguém a seu inimigo
Entrega a força que tem;
 Sem reflexão não se aceita
Favor que do forte vem. 
.
Dos inimigos dos filhos
Ninguém em casa meter
Deve, porque se o fizer; 
Cedo se há de arrepender! 
.
Ficará como as Ovelhas,
Que dos Lobos em penhor
Tendo os filhos, se perderam;
É sempre o mesmo traidor. 
.


*          *          * 

O BURRO E A CADELINHA

Um Burro, por companheira
Tinha certa Cadelinha
Com quem o dono brincava, 
E na mesa se entretinha.
.

Disto invejoso buscou 
Também ver se conseguia 
Fazer as mesmas gracinhas, 
Que a Cadelinha fazia. 
.
Um dia entra o dono em casa, 
O Burro pôs-se a bater
Com as patas, lhe procurando
A cara para lamber.
.
Grita o homem, os criados
Logo acudindo à voz sua, 
Vão-se ao Burro, e com pancadas
Poem-no no meio da rua. 
.
Moralidade
Ninguém se meta a fazer, 
Importuno e entremetido ,
Aquilo, estouvadamente, 
Para que não foi nascido. 

Cante o Músico; o Letrado
Dê conselhos; de sua arte
Fale o Artista; reze o Padre; 
O Militar fale em Marte. 

Quem faz o contrário disto, 
Pensando agradar, ofende; 
Causa nojo o que é fingido; 
A ter graça não se aprende. 
.
Nicéas Romeo Zanchett 








                                                                

Nenhum comentário:

Postar um comentário